Nos dois primeiros dias do evento, participam 8.251 estudantes do ensino fundamental e do ensino médio de 179 escolas públicas e privadas do Rio de Janeiro. Hoje (30), eles dividem o espaço com o público em geral, mas, amanhã (1º), dia do encerramento, o festival será exclusivo para as experiências do público geral nos vários estandes disponíveis.
Um dos destaques é o projeto Meninas Olímpicas, do Impa, coordenado pela professora Letícia Rangel. Ela disse à Agência Brasil que o Meninas Olímpicas é um projeto de educação que visa investigar e promover o incentivo de meninas para área de STEM (do inglês ciência, tecnologia, engenharia e matemática) nas escolas. “É muito barulho! Barulho bom de criança se divertindo, de contato prazeroso com a matemática”, comemorou Letícia, ao falar sobre a abertura do festival.
Segundo Letícia, o que mostra que é possível fazer é o fato de quatro das cinco primeiras escolas que participaram do projeto em 2019 terem permanecido este ano. “Isso já é um sinal. A equipe é a mesma. Não perdi nenhum professor, nenhuma graduanda. E mais do que isso: meninas que eram alunas da educação básica em 2019 hoje são graduandas e estão atuando no projeto como graduandas. Elas foram motivadas, decidiram pela carreira na área de exatas e hoje estão sendo modelo para outras meninas.”
Nas escolas, o projeto funciona com atividades rotineiras semanais. “Em cada escola tem um professor que coordena o projeto. Ele recebe uma graduanda de licenciatura em matemática e atende a comunidade escolar. E alunas da educação básica desenvolvem atividades de matemática e de robótica e Arduíno (placa eletrônica de código aberto baseada em hardware e software descomplicados). A intenção é, primeiro, motivar as meninas, encorajá-las para as áreas de STEM”.
De acordo com Letícia, diferentemente do que ocorre com os meninos, de forma geral, as meninas, para seguir nas áreas das ciências exatas, precisam ser incentivadas para vencer os estereótipos. “A literatura mostra que as meninas precisam vencer os estereótipos para que possam fazer suas escolhas.”
Atualmente, o Meninas Olímpicas tem envolvimento direto de 90 integrantes – dez professores, 13 graduandas e alunas da educação básica, a partir da 8ª série do ensino fundamental e do ensino médio. Letícia enfatizou a importância de projetos que incentivem meninas para as áreas de STEM nas escolas porque é nessa etapa da escolaridade que o estudante escolhe as áreas para a universidade e que profissão querem seguir. O projeto visa também formar o professor e as graduandas para enfrentar a questão da falta de representatividade feminina na área de exatas.
Para o diretor executivo da Firjan Senai Sesi, Alexandre dos Reis, a matemática é peça fundamental para o futuro da indústria e do país. “Estimular crianças e jovens a se desenvolver em matemática é também cuidar do desenvolvimento industrial e tecnológico e faz parte do que acreditamos como instituição”, afirmou.
O coordenador de Educação Básica da Firjan Sesi, Vinicius Mano, disse à Agência Brasil que o festival é uma iniciativa importante para estimular o ensino da matemática. “Infelizmente, a matemática é vista como uma ciência fora do alcance, longe das pessoas, do dia a dia, da brincadeira, do que as crianças gostam. E o festival tem muito dessa ideia: mostrar que a matemática não é uma ciência feita para nerds, e sim uma ciência para investigar padrões, descobrir formas. É uma ciência interativa, em que se pode botar a mão, ver as coisas acontecerem”. Nesse sentido, o festival tem um peso importante de “desmistificar um pouco dessa cara de malvada que a matemática tem.”
O estande da Firjan apresenta o projeto Arena, uma exposição itinerante com peças do Museu de Matemática de Nova Iorque. São experiências e atividades em que a criança pode “botar a mão na matemática”, ressaltou Mano. A roda quadrada em um triciclo, o cubo cabeça, formado por sete peças tridimensionais, o desafio do labirinto, a Legolândia e o xadrez gigante são algumas das atividades propostas.
Além disso, equipes de robótica das Escolas Firjan Sesi Resende, Barra do Piraí, São Gonçalo e Tijuca também estão presentes no estande. “São várias atividades que mostram o lado lúdico da matemática e a maneira de enxergar a matemática a partir da experiência.”
Outro estande de grande afluência é o da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep). A coordenadora de Logística da Olimpíada, Erika Sholl, disse que tem sido grande a procura pelas provas já efetuadas. “Temos os momentos Obmep, que são pequenos desafios de 5 minutos, com a colaboração de alunos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). “Eles colocam em uma tela desafios rápidos, de raciocínio lógico. Estamos tendo uma grande resposta, porque as crianças procuram as provas e livros com as questões. Já é a terceira vez que o motorista vai ao Impa para trazer material. A gente não esperava isso.”
Segundo Erika, o festival tem se mostrado um incentivo fantástico para a Olimpíada de Matemática. Com a realização este ano da primeira Obmep Mirim, para alunos da segunda à quinta série do ensino fundamental, o incentivo tem sido grande. “As oficinas contribuem para isso”. No turno da manhã, 2,4 mil estudantes das escolas públicas e privadas fluminenses participaram do evento. À tarde, mais 2,6 mil. Nas telas disponibilizadas no festival, são veiculados lembretes das provas da segunda fase da Obmep, no dia 8 de outubro, e da Obmep Mirim, no dia 11 do próximo mês.
Está presente ainda no Festival Nacional da Matemática o programa Ciência Móvel, do Museu da Vida, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). De acordo com o coordenador do programa, Paulo Henrique Colonese, o Ciência Móvel leva exposições para municípios do interior e que, desde sua primeira edição, em 2017, traz atividades que envolvem experimentos sobre ações de física, biologia, química e matemática. “As crianças estão participando bastante das ações. Pensamos que a chuva fosse atrapalhar um pouco, mas as escolas estão vindo. Está muito cheio aqui”, comemorou Colonese.
Dois conjuntos de atividades do programa atraem o interesse dos estudantes, reunindo jogos e quebra-cabeças geométricos, que provocam desafio visual. Colonese destaca ainda as oficinas de aviões de papel. “Trouxemos dez modelos de aviões com tamanho e formas diferentes, e isso afeta o voo das gaivotas”. Foi disponibilizada uma faixa de 10 metros para ver quais aviões vão mais longe. “As crianças estão interessadas e participando”. O projeto, que tinha sido criado antes da pandemia da covid-19, passa agora pelo primeiro teste. “Está dando muito certo.”
O Ciência Móvel conta com duas equipes de 25 pessoas que se revezam de manhã e à tarde durante o festival.