O projeto foi criado em parceria da organização não governamental (ONG) Associação Junior Achievement Rio de Janeiro (JA Rio de Janeiro), por meio do programa Innovation Camp e o Instituto Reciclar, com o Programa de Apoio à Educação Pública (Paep).
Segundo o Fórum Comunitário de Jardim Gramacho, cerca de 40 mil pessoas vivem no bairro atualmente, sendo a maioria dos moradores formada por ex-catadores e suas famílias.
Os alunos e professores do Ciep 199 Charles Chaplin terão dois tipos de aprendizagem. Eles vão entender que o lixo eletrônico não é um material de descarte, mas de ressignificação, ou reúso. “Eles vão aprender as várias formas de reúso desse lixo (celulares, computadores, pilhas e baterias, fios, cabos, iluminação, eletroportáteis e eletrodomésticos), como se pode aproveitar aquilo para virar outra coisa. É a ideia da cultura maker. Os alunos vão ressignificar a ideia do que é lixo eletrônico, por meio da prática”. A cultura maker se baseia na ideia de que as pessoas devem ser capazes de fabricar, construir, reparar e alterar objetos dos mais variados tipos e com diversas funções.
Os estudantes vão abrir os resíduos eletrônicos, investigar as formas de reutilização e, mediante a metodologia do design thinking (método para estimular a abordagem de problemas) podem entender o problema que escola e comunidade enfrentam com relação ao lixo eletrônico.
Poderão criar uma e-sucatoteca que não seja um depósito só de sucata, mas também daquilo que é vivo e tem utilidade para a comunidade. Ou seja, a e-sucatoteca será um polo de coleta e distribuição de lixo eletrônico.
Os alunos poderão ainda se tornar agentes multiplicadores de ensinamentos para a família, os amigos, entendendo como o lixo eletrônico pode não ser lixo e ter várias formas de uso, visando impactar pessoas e comunidades do ponto de vista social, ambiental e econômico, informou Maria Clara.
Cinquenta alunos do Ciep 199 Charles Chaplin serão divididos em dez equipes, que deverão elaborar uma campanha de arrecadação do lixo eletrônico e um plano de comunicação e criação de uma e-sucatoteca na escola.
Com isso, a iniciativa visa transformar o cenário escolar, destacando a importância do uso de tecnologias para o ensino-aprendizagem e para resolução de problemas sociais complexos. Durante o processo, os estudantes contarão com suporte de facilitadores formados que os auxiliarão no desenvolvimento da ideia e apresentação da solução.
Na primeira etapa, as equipes vão apresentar projetos de campanhas de arrecadação. A ideia vencedora será premiada com R$ 1 mil e uma trilha de mentoria para colocar o projeto em prática. Na segunda etapa, será a vez de apresentar os planos de criação da e-sucatoteca.
O plano mais completo e viável será premiado também com um capital semente, uma trilha de mentoria para por o projeto em prática, além de um bônus surpresa.
Maria Clara disse que a escola foi escolhida para dar início ao projeto por várias razões. “Por ser uma escola muito engajada, que já está em um projeto nosso, que é a Trilha Empreendedora, e por ser próxima ao antigo lixão de Jardim Gramacho, que tem todo o contexto dos alunos com a questão do lixo. É uma escola-modelo para nós”. O objetivo é entender como o projeto vai aderir ao contexto para replicá-lo em outras escolas e situações.
A diretora executiva da JA Rio de Janeiro, Renata Guimarães, ressaltou que a ideia é transformar as escolas estaduais do Rio de Janeiro em polos de coleta e metarreciclagem de e-lixo, para que possam colaborar para o desenvolvimento do uso dessa tecnologia em sala de aula, desenvolvendo a criatividade, autonomia, resolução de problemas, entre outras competências socioemocionais.”
O diretor executivo do Instituto Reciclar, Carlos Henrique Lima, lembrou, por outro lado, que a iniciativa faz parte do Programa de Apoio à Educação Pública (Paep), cujo intuito é “compartilhar nossa expertise técnica em diversas áreas do saber educacional com professores e educadores das redes públicas de ensino”. Este ano, o programa já formou 2.700 professores, beneficiando mais de 52 mil estudantes de diferentes redes públicas de ensino. “Nosso intuito é, juntos, apoiarmos a melhoria contínua da educação pública e o desenvolvimento social”, disse Lima.
De acordo com o relatório The Global E-waste Monitor 2020, elaborado pela Universidade das Nações Unidas, o Brasil foi o quinto país que mais gerou lixo eletrônico no mundo em 2019, com mais de 2 milhões de toneladas, ficando atrás da China (10,1 milhões de toneladas), Estados Unidos (6,9 milhões de toneladas), Índia (3,2 milhões de toneladas) e Japão (2,5 milhões de toneladas). Considerando apenas os países da América Latina, o Brasil é o primeiro no ranking dos geradores de e-lixo.