Com a expansão do setor de saúde e os desafios evidenciados pela pandemia de Covid-19, o mercado brasileiro passou a exigir gestores cada vez mais preparados para atuar em clínicas, hospitais e demais unidades de atendimento. A demanda recai especialmente sobre profissionais que combinem formação técnica sólida na área da saúde com competências de gestão. Segundo a Associação Médica Brasileira (AMB), muitos profissionais encontram dificuldades ao assumir cargos de liderança justamente por não dominarem aspectos administrativos, como gestão de pessoas, finanças e cultura organizacional. Esse cenário impulsionou uma corrida por cursos de pós-graduação, MBAs e até mestrados voltados à administração hospitalar e clínica.
Expansão dos cursos de gestão em saúde
Os dados confirmam essa tendência de qualificação. Em 2024, as buscas por cursos de pós-graduação cresceram 22% no país, reflexo da valorização crescente de profissionais com formação complementar. O aumento também se reflete nos salários: segundo o IBGE, quem possui pós-graduação pode receber até 66% a mais do que profissionais com apenas graduação. No setor da saúde, além das especializações clínicas tradicionais, cresce o interesse por cursos de gestão hospitalar. Cada vez mais médicos, enfermeiros e demais trabalhadores percebem que a formação técnica não é suficiente para assumir funções administrativas e buscam capacitação para avançar na carreira.
Para suprir essa demanda, universidades e institutos ampliaram significativamente a oferta de cursos. Hoje, existem centenas de graduações tecnológicas em Gestão Hospitalar autorizadas pelo Ministério da Educação (MEC), tanto presenciais quanto a distância. No nível de pós-graduação lato sensu, há pelo menos 35 especializações e MBAs reconhecidos oficialmente no Brasil, abrangendo temas como gestão de serviços de saúde, acreditação e programas executivos para profissionais experientes. Instituições tradicionais, como a Faculdade São Camilo, pioneira na área, e escolas de negócios como FGV e Insper, destacam-se na formação. A Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, por exemplo, lançou recentemente uma especialização focada em eficiência e qualidade na gestão, voltada justamente a suprir a lacuna de preparo gerencial entre profissionais de saúde.
No campo stricto sensu, os mestrados profissionais também ganham espaço. “O mestrado profissional em Gestão da Saúde é direcionado a profissionais com pelo menos cinco anos de experiência na área que ocupam ou almejam posições de liderança”, informa a Fundação Getulio Vargas (FGV), ao divulgar seu programa em São Paulo. Esses cursos aprofundam competências administrativas e de políticas públicas, preparando líderes para lidar com a complexidade dos sistemas de saúde público e privado. Em alguns estados, essa qualificação já é até requisito formal: no Tocantins, por exemplo, a carreira pública de Gestor em Saúde, criada em 2005, exige diploma superior e pós-graduação em saúde pública ou administração hospitalar, um reflexo direto da crescente profissionalização do setor.
Mercado aquecido e salários em alta
O mercado de trabalho para a gestão em saúde atravessa um momento de forte expansão. Segundo a Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde), só em abril de 2021 foram criados mais de 30 mil postos formais no setor, totalizando 120 mil nos primeiros quatro meses do ano. Depois das funções assistenciais, a área de gestão foi uma das que mais gerou vagas. Entre maio de 2020 e abril de 2021, as contratações formais de profissionais com formação em gestão hospitalar cresceram 70%, impulsionadas pela abertura de novas unidades e pela necessidade urgente de tornar operações mais eficientes diante do aumento dos custos.
Os salários acompanham esse movimento. Um tecnólogo em Gestão Hospitalar inicia a carreira com média salarial de R$4,4 mil, podendo chegar a cerca de R$6 mil em posições sêniores. Em grandes hospitais ou redes de saúde, profissionais com MBAs e experiência consolidada podem ultrapassar a faixa de R$15 mil a R$20 mil mensais. Como resume um guia de carreiras do setor, “vale a pena se capacitar, principalmente para quem deseja assumir funções de gestão ou buscar salários maiores na saúde”. Com isso, a educação continuada tornou-se praticamente indispensável para quem deseja ascender profissionalmente.
A qualificação contínua como diferencial
Instituições de ensino e empregadores reforçam essa tendência de valorização da formação administrativa. “Os investimentos em saúde aumentaram nos últimos anos, assim como a demanda por profissionais para apoiar a gestão”, afirma Maralice Staniecki, coordenadora de Gestão Hospitalar da FaSaúde (RS). Segundo ela, apenas em Porto Alegre, dois grandes hospitais devem ser inaugurados em breve, ampliando significativamente a procura por gestores. “A demanda tem crescido de forma consistente. Somos frequentemente procurados por instituições que buscam indicações de alunos para vagas não apenas em hospitais, mas também em operadoras de saúde e consultorias”, explica.
Para profissionais já experientes na assistência, a formação gerencial pode representar um divisor de águas. Gláucia Franco, especialista em administração clínica, com mais de 20 anos de atuação em unidades de pronto atendimento, destaca o impacto direto da qualificação em sua prática. Formada em MBA em Gestão de Saúde pela Universidade São Camilo em 2025 e atualmente cursando um MBA internacional nos EUA, ela afirma que a pós-graduação trouxe “uma visão mais ampla de gestão, permitindo decisões mais embasadas e eficientes no dia a dia”. Segundo Franco, quando um gestor domina tanto a linguagem da saúde quanto a da administração, a instituição ganha em desempenho, e o paciente percebe a diferença.
Profissionalização que veio para ficar
Para especialistas, a profissionalização administrativa na saúde é um movimento definitivo. Hospitais, clínicas e redes de atendimento, pressionados por custos crescentes e pela necessidade de oferecer serviços de excelência, identificam nos gestores qualificados um elemento estratégico. Como sintetizou a coordenadora de um curso de pós-graduação, a formação em administração hospitalar busca “implementar mudanças nos processos administrativos das organizações de saúde, impactando o desenvolvimento social e da saúde”. Em outras palavras, investir em conhecimento gerencial fortalece carreiras, melhora a eficiência dos serviços e contribui para uma saúde mais qualificada para toda a população.
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