Em agosto de 2022, garimpeiros foram retirados da Terra Indígena Baú, no sudoeste do Pará, após serem subjugados por lideranças Kayapó. Os garimpeiros foram retirados com o apoio do IBAMA, da Força Nacional e da Força Aérea. Na época, o Instituto Kabu, que atua no Bloco Xingu, promovendo a gestão sustentável dos territórios Kayapó-Panará no sudeste da Amazônia, declarou que havia pelo menos 79 garimpeiros na região.
Um ano depois, a terra permanece livre de invasores e os rios estão ficando limpos novamente. Os indígenas montaram uma base de vigilância no local do garimpo a fim de impedir o retorno dos invasores. As lideranças, apoiadas pelo Kabu e projetos que atuam nas áreas protegidas, como o LIRA/IPÊ, estão dispostas a preservar a terra para as próximas gerações.
O cacique Bepjo, 46 anos, que liderou a expulsão dos garimpeiros, afirma que há uma constante fiscalização para impedir a entrada de garimpeiros e madeireiros. “Pegamos as coisas deles, os documentos e mandamos para a FUNAI, IBAMA e Kabu. Não queremos briga – há parentes nossos que trabalham para o branco e pensam só no dinheiro. Não queremos matar nosso parente, queremos defender a terra e a floresta para as novas gerações não sofrerem”, diz ele. “Se a gente der oportunidade para o branco, não vamos ter mais terra. Temos que pensar no futuro. Ao defendermos nossa floresta, vamos pescar, caçar, viver. Se entregarmos nossa vida, nosso lar, nossa floresta, a gente não vai existir mais”, diz Bepjo, que assumiu a liderança da aldeia Baú há um ano e meio.
A área da TI Baú equivale a 1,5 milhão de campos de futebol e teve o território homologado em 2008. Ali vivem cerca de 190 indígenas, incluindo os do grupo Py’rô, que são isolados, os Kayapó e há a ameaça dos invasores, que é constante. “O garimpo na TI Baú remonta aos anos 1960. As velhas lideranças, de alguma maneira, eram complacentes com os brancos”, conta Luis Carlos Sampaio, consultor do Instituto Kabu. “Felizmente, boa parte da nova geração quer mudar esse cenário. São jovens que cresceram com doenças de pele, diarreia, entre outros problemas, por conta da destruição dos rios. Hoje, podemos comemorar - eu não acreditava que seria possível reverter o rio e ele está limpo. Mas foi preciso uma geração inteira emergir para isso acontecer”, diz ele.
Como é a vigilância
Enquanto os indígenas fazem a fiscalização por terra, a rede de apoio trabalha de maneira remota. “Temos o suporte de satélites para acompanhar o desmatamento, a degradação em parceria com o Rede Xingu+ (SIRAD X) e, com isso, criamos uma espécie de zona tampão”, diz Luis. A coordenadora do LIRA/IPÊ, Fabiana Prado, afirma que para fazer a vigilância, os indígenas contam com uma base e uma estrutura, apoiadas pelo LIRA. “A vigilância é muito importante. Quando percebem que há risco de invasão, os indígenas pressionam, circulam, não deixam entrar ou retiram invasores. Na base, eles têm uma rotina em que se revezam os grupos de agentes de vigilância a cada seis dias”, conta ela. “Os indígenas bloquearam três garimpos sem disparar nenhum tiro. Isso é uma vitória”, conclui.
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